A ideia de filiação divina não é exclusividade da tradição judaico-cristã. Culturas antigas, como a egípcia, a romana e o mundo helenístico, frequentemente atribuíam a reis, imperadores e figuras extraordinárias o status de “filhos de Deus”. Devido ao seu caráter múltiplo, essa ideia é amplamente estudada atualmente, especialmente em cursos de pós-graduação em Teologia.
Contudo, o título “Filho de Deus” aplicado a Jesus no Novo Testamento (NT) possui características únicas que não derivam diretamente dessas tradições.

Essa reflexão examina o significado desse título a partir da experiência histórica de Jesus, sua relação com Deus e o desenvolvimento teológico posterior na comunidade cristã.
Teologia e a Filiação Divina
No Egito antigo, os faraós eram considerados filhos dos deuses. Acreditava-se que eles possuíam uma origem divina, com direito a governar por mandato celestial.
Essa ideia era consolidada através de mitos que ligavam os faraós às principais divindades, como Rá e Osíris. Essa relação não era apenas simbólica, mas também funcional, legitimando o poder político e religioso.
No contexto romano, os imperadores frequentemente eram considerados divinos ou semi-divinos após a morte. O título de “Divi Filius” (“filho do divino”) foi usado por Augusto para legitimar sua autoridade como sucessor de Júlio César, que havia sido deificado pelo Senado. Essa prática tinha um forte componente político, unindo o culto ao imperador à lealdade ao Estado.
No mundo helenístico, influenciado pela filosofia grega, heróis e figuras excepcionais também eram vistos como filhos de deuses. Alexandre, o Grande, por exemplo, era considerado filho de Zeus. Essa atribuição conferia à pessoa uma aura de autoridade divina e uma missão especial no mundo.
O Contexto do Filho de Deus em Relação à Jesus
Embora a filiação divina não fosse incomum em contextos culturais antigos, o uso do título “Filho de Deus” em relação a Jesus apresenta diferenças significativas.
Em primeiro lugar, não há indícios de que Jesus tenha reivindicado explicitamente esse título durante sua vida terrena.
O Novo Testamento sugere que a identificação de Jesus como “Filho de Deus” emerge principalmente após a ressurreição, quando seus seguidores reconhecem de forma mais plena sua relação única com Deus.
Nos escritos de Paulo, o título “Filho de Deus” é frequentemente associado aos momentos centrais da vida de Jesus, como seu envio, morte e ressurreição.
Em Romanos 1:4, Paulo declara que Jesus foi “poderosamente declarado Filho de Deus pela ressurreição dos mortos”. Para Paulo, esse título não apenas afirma a identidade de Jesus, mas também seu papel redentor no plano de Deus.
Teologia e a Narrativa do Batismo
Os evangelhos também vinculam o título “Filho de Deus” a momentos cruciais da vida de Jesus. Por exemplo, na narrativa do batismo (Marcos 1:11), uma voz do céu declara: “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado”. Na transfiguração (Mateus 17:5), o título reaparece, confirmando a missão divina de Jesus.
Esses eventos reforçam a compreensão de que Jesus possui uma relação única com Deus, marcada por amor, obediência e autoridade.
A experiência da ressurreição desempenhou um papel central na atribuição do título “Filho de Deus” a Jesus. Para os primeiros cristãos, a ressurreição não era apenas um evento extraordinário, mas a confirmação de que Jesus era verdadeiramente de Deus. Como expressado em Atos 2:36, a ressurreição legitima Jesus como “Senhor e Cristo”.
A ressurreição também gerou uma nova compreensão sobre a relação de Jesus com Deus. Os cristãos primitivos interpretaram sua ressurreição como prova de que ele era o mediador definitivo entre Deus e a humanidade. O título “Filho de Deus” tornou-se, assim, um símbolo de sua autoridade divina e de sua missão salvífica.
Um aspecto distintivo da vida de Jesus é sua relação com Deus, caracterizada por confiança e obediência absolutas. Nos evangelhos, Jesus frequentemente se refere a Deus como “Pai”, destacando uma proximidade ímpar. Essa relação reflete um modelo de vida centrado na vontade divina, exemplificado na oração do Getsêmani (Mateus 26:39): “Não seja como eu quero, mas como tu queres”.
A Missão de Jesus e o Plano com Deus
A missão de Jesus também reflete sua disponibilidade para cumprir o plano de Deus. Ele se apresenta como servo obediente, disposto a enfrentar a cruz para realizar a redenção da humanidade.
Essa entrega total a Deus fortalece a compreensão de sua filiação divina, não como privilégio, mas como responsabilidade. A comunidade cristã primitiva reconheceu em Jesus não apenas um mestre ou profeta, mas o Filho de Deus em um sentido pleno e único.
Essa convicção foi moldada pela experiência da ressurreição e pelo impacto de sua vida e ensinos. A maneira como Jesus se relacionava com Deus também influenciou a forma como os cristãos compreendiam sua própria relação com Deus.
Para os seguidores de Jesus, sua filiação divina não era apenas uma declaração teórica, mas um convite à experiência de Deus como Pai, um Deus que se revela através de Jesus e está presente em suas vidas.
Essa verdade sobre a filiação divina é amplamente estudada em cursos de pós-graduação em Teologia, para que os alunos possam compreender melhor a relação de Jesus com Deus.
Jesus e o Significado do Filho de Deus
O título “Filho de Deus”, aplicado a Jesus, carrega um significado profundo que transcende as noções de filiação divina em culturas antigas. Ele reflete a íntima relação de Jesus com Deus, marcada por obediência, confiança e entrega total.
Além disso, sua atribuição está intrinsecamente ligada à experiência da ressurreição, que confirmou sua identidade e missão.
Assim, a filiação divina de Jesus não deve ser entendida como uma extensão das tradições religiosas de sua época, mas como uma revelação única e transformadora, que continua a inspirar e moldar a fé cristã ao longo dos séculos.
Sendo assim, para melhor compreensão do significado do Filho de Deus, é essencial voltar nossos estudos na Teologia. Atualmente, os cursos de pós-graduação em Teologia trazem uma ótima oportunidade de compreender melhor essa relação, bem como outros assuntos importantes das Escrituras.
Texto por Prof. Dr. Erik Dorff Schmitz
Prof. Dr. Erik Dorff Schmitz é Doutor e Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Graduando em Letras Português pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica de Santa Catarina – FACASC, Bacharel em Filosofia pela Faculdade São Luiz – FSL.