A morte de Jesus Cristo ocupa uma posição central na fé cristã, sendo descrita em diversas passagens do Novo Testamento com uma linguagem fortemente marcada pela simbologia sacrificial. Nos últimos anos, passagens sobre a morte de Cristo foram amplamente abordadas em cursos de pós-graduação em Teologia.
Essa dimensão é essencial para a compreensão do significado teológico da crucificação e da salvação que dela deriva. Termos como “cordeiro pascal imolado” (1Cor 5,7), “cordeiro reconciliador” (Ap 5,9), e as frequentes referências ao “sangue derramado” (Mc 14,24; Mt 26,28; Lc 22,20) apresentam a morte de Cristo como o sacrifício definitivo, capaz de reconciliar a humanidade com Deus.

A Carta aos Hebreus, em especial, declara o fim dos sacrifícios da Antiga Aliança em virtude do sacrifício único de Cristo (Hb 10,10-12).
Teologia e a Reflexão da Carta de Hebreus
Essa reflexão busca explorar a dimensão sacrificial da morte de Cristo, analisando como o Novo Testamento emprega imagens e conceitos cultuais, e como essa teologia sacrificial molda a doutrina da salvação na tradição cristã.
Os sacrifícios ocupavam um lugar central na vida religiosa de Israel. No sistema sacrificial do Antigo Testamento, especialmente delineado no livro de Levítico, o sangue dos animais era oferecido em expiação pelos pecados, representando a substituição do pecador pelo sacrifício (Lv 16,15-16). Esse sistema estava intrinsecamente ligado à ideia de que a vida está no sangue (Lv 17,11).
O cordeiro pascal era um elemento crucial da Páscoa judaica, celebrada em memória da libertação do Egito (Ex 12,1-14). O sangue do cordeiro, aspergido nos umbrais das portas, era um sinal de proteção contra o anjo da morte. Esse rito de libertação e redenção forneceu uma base simbólica para o entendimento da morte de Cristo como o Cordeiro Pascal imolado (1Cor 5,7).
O Evangelho e o Cordeiro de Deus
O Evangelho de João identifica Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Essa imagem conecta diretamente a morte de Cristo ao sacrifício expiatório, enfatizando sua função redentora universal.
A linguagem sacrificial destaca a ideia de que Jesus, sem pecado, se entrega voluntariamente para reconciliar a humanidade com Deus. Nos relatos da Última Ceia, Jesus associa seu sangue ao “novo pacto” (Lc 22,20; Mt 26,28; Mc 14,24).
Essa alusão ao sangue da aliança (Ex 24,8) aponta para o sacrifício no Sinai, onde a aliança entre Deus e Israel foi ratificada. O sangue de Cristo, no entanto, inaugura uma nova aliança, eterna e eficaz, substituindo o sistema sacrificial anterior.
Essa alusão é amplamente debatida em cursos d epós-graduação em Teologia, a fim de fomentar a discussão sobre a aliança de Deus com Israel, bem como a nova aliança advinda de Cristo.
A Carta aos Hebreus apresenta uma teologia sacrificial detalhada, argumentando que o sacrifício de Cristo é superior e definitivo. Diferentemente dos sacrifícios repetitivos do sacerdócio levítico, o sacrifício de Cristo é único e eterno (Hb 10,10-12).
Ele é descrito como o sumo sacerdote perfeito, que entra no “Santo dos Santos” celestial, oferecendo seu próprio sangue para expiação (Hb 9,12).
Principais Pontos da Teologia Sacrificial
Na Bíblia, a teologia sacrificial destaca que a morte de Cristo foi uma expiação pelos pecados, conforme descrito em Romanos 3,25: “Deus o apresentou como sacrifício expiatório, mediante a fé, pelo seu sangue”.
Essa expiação rompe a barreira causada pelo pecado, permitindo a reconciliação entre Deus e a humanidade (Ef 2,13-16). Ao declarar que o sacrifício de Cristo aboliu os sacrifícios da Antiga Aliança, a Carta aos Hebreus sublinha a suficiência da obra redentora de Cristo.
Não há necessidade de outros sacrifícios, pois Ele cumpriu perfeitamente a exigência divina de justiça e santidade (Hb 10,18).
Passagens como este são amplamente debatidas na Teologia, especialmente nos cursos de pós-graduação em Teologia, já que são alvos de discussões por muitos líderes religiosos há muito tempo.
A morte sacrificial de Cristo transcende as fronteiras de Israel, oferecendo salvação a toda a humanidade. A linguagem cultual usada no Novo Testamento demonstra que Cristo é o “cordeiro reconciliador” que redime pessoas “de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5,9).
A Eucaristia e a Morte de Cristo
A celebração da Eucaristia é uma expressão contínua da dimensão sacrificial da morte de Cristo. Nela, os cristãos recordam e participam do sacrifício de Cristo, alimentando-se de seu corpo e sangue sob as espécies de pão e vinho.
A dimensão sacrificial da cruz também convoca os cristãos a oferecerem suas vidas como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1). Esse chamado implica viver em obediência, amor e serviço ao próximo, refletindo o exemplo de Cristo.
A dimensão sacrificial da morte de Cristo é central para a compreensão da doutrina cristã da salvação. As imagens cultuais presentes no Novo Testamento sublinham a profundidade e a universalidade desse ato redentor. Cristo é o Cordeiro Pascal, o Sumo Sacerdote e o Sacrifício definitivo, que inaugura uma nova aliança e reconcilia a humanidade com Deus.
Essa compreensão não apenas molda a teologia cristã, mas também inspira práticas litúrgicas e éticas que refletem o chamado ao discipulado e à comunhão com o Deus que se doa por amor. Assim, a cruz de Cristo permanece como o símbolo supremo de sacrifício e salvação.
Texto por Prof. Dr. Erik Dorff Schmitz
Prof. Dr. Erik Dorff Schmitz é Doutor e Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Graduando em Letras Português pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica de Santa Catarina – FACASC, Bacharel em Filosofia pela Faculdade São Luiz – FSL.