O relacionamento entre o evangelho e a cultura, conforme evidenciado na carta aos Colossenses, apresenta uma complexidade notável que pode ser analisada através de quatro dimensões distintas: afirmação, relativização, confronto e transformação. Esse debate, embora antigo, ainda é atual, especialmente em discussões em cursos de pós-graduação em Teologia.
Na prática, esta abordagem multifacetada oferece importantes insights para a missão cristã contemporânea.
Teologia e as Dimensões do Evangelho e a Cultura
A primeira dimensão, a afirmação da cultura, demonstra que Paulo não adotou uma postura de rejeição total à cultura greco-romana. Pelo contrário, ele reconheceu que, como toda a criação é obra de Deus através de Cristo, a cultura humana possui elementos que podem ser afirmados e utilizados para comunicar o evangelho.
Paulo empregou conceitos e imagens da cultura local, como a ideia de reconciliação do mundo greco-romano e a linguagem do triunfo militar romano, para comunicar verdades espirituais.
A segunda dimensão envolve a relativização das distinções culturais. Em Cristo, barreiras tradicionais como “grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre” são relativizadas, embora não completamente eliminadas.
Paulo não pede que as pessoas abandonem suas identidades culturais, mas que reconheçam que estas não são absolutas diante da nova identidade em Cristo. Esta perspectiva permite que o evangelho se expresse significativamente em diferentes contextos culturais.
Confronto com a Cultura
O confronto com a cultura representa a terceira dimensão. Paulo reconhece que o mundo está sob o domínio das trevas e dos “elementos do mundo”.
A cultura, embora criação de Deus, está permeada pelo pecado e precisa ser confrontada em seus aspectos que contradizem os propósitos divinos. Em Colossenses, Paulo confronta especificamente o sincretismo religioso e as práticas que diminuem a supremacia de Cristo.
A quarta dimensão é a transformação da cultura. Paulo demonstra que o evangelho tem o poder de transformar as culturas a partir de dentro. Ele reinterpreta linguagem e conceitos culturais, preenchendo-os com significado cristão.
Um exemplo notável é sua abordagem dos códigos domésticos da cultura greco-romana, que ele mantém em sua estrutura básica, mas transforma radicalmente ao fundamentá-los na senhoria de Cristo.
Estas quatro dimensões frequentemente se sobrepõem e interagem entre si. Por exemplo, quando Paulo utiliza a imagem do triunfo romano para ilustrar a vitória de Cristo, ele simultaneamente afirma um elemento cultural (usando uma imagem familiar), confronta sua interpretação comum (mostrando que a verdadeira vitória vem através da cruz) e o transforma (dando-lhe um novo significado cristológico).
Teologia e a Importância da Abordagem Multidimensional para as Igrejas
Esta abordagem multidimensional oferece importantes lições para a igreja atual. Primeiro, evita tanto o extremo da rejeição total da cultura quanto o da adaptação acrítica.
Segundo, demonstra que o engajamento com a cultura deve ser sábio e discernidor, reconhecendo tanto seus aspectos positivos quanto suas limitações.
Terceiro, mostra que a transformação cultural é um processo que ocorre principalmente através do testemunho da comunidade cristã vivendo de forma autêntica sua fé.
O desafio atual é discernir quando e como aplicar cada uma destas dimensões em nossos próprios contextos culturais. Isso requer sabedoria para identificar elementos culturais que podem ser afirmados, aspectos que precisam ser relativizados, práticas que devem ser confrontadas e áreas que necessitam de transformação.
Este discernimento deve ser guiado pelo Espírito Santo e fundamentado na compreensão clara do evangelho e da cultura local.
No mais, é pertinente pontuar que, a busca pela melhor compreensão do evangelho, torna mais fácil compreender sua mensagem. Atualmente, uma boa maneira de angariar conhecimento é a partir de cursos de pós-graduação em Teologia, já que eles contam com debates pertinentes sobre esse e diversos outros temas.
