A palavra graça possui uma pluralidade de sentidos. Desde os primórdios, o estudo da graça é amplamente debatido, visando compreender o seu impacto em nossa realidade. Atualmente, existem diversos grupos que visam melhor compreendê-la, como ocorre em muitos cursos de pós-graduação em Teologia, por exemplo, já que esta se materializa como uma matéria que visa entender o poder da graça.
Ela nos remete a um universo de significados que envolve toda a nossa compreensão da realidade que nos cerca, desde a maneira como nos relacionamos com o sagrado até nossas relações com o que menos gostamos. Em um de seus usos, o Apóstolo Paulo afirma “Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2.11).

A origem da graça e sua importância para a Teologia
Sobre a graça, a maneira como nós a empregamos na língua portuguesa vem do latim gratia, que nos remete a uma atitude de reconhecimento das qualidades do outro, que nos desperta gratidão e apreço.
Mas ela também está presente na língua grega, como Charis, que eram as deusas mitológicas do banquete, do encanto, da sorte e da prosperidade. Essas perspectiva são amplamente debatidas na Teologia.
Eram dotadas de beleza e simbolizavam a harmonia e a alegria. Na literatura grega e na arte ocidental em geral, elas sempre foram representadas por três jovens que dançam nuas entre si.
Muito estudada na Teologia, especialmente nos cursos de pós-graduação em Teologia, a palavra também está presente no hebraico, tanto como chen quanto hesed. A primeira lembra o transbordamento da bondade divina apesar do pecado humano. Deus abomina o pecado, porém a sua bondade ainda é maior.
A primeira vez que ela aparece na Bíblia é em Gênesis 6.8, traduzida muitas vezes como benevolência: “A Noé, porém, o Senhor mostrou benevolência”. Tem o sentido de curvar-se, o ato de alguém maior ser capaz de se aproximar de alguém menor.
A segunda é traduzida costumeiramente como misericórdia, resultado de um sentimento de amor e de fidelidade de Deus para com sua criação.
No uso cotidiano, graça aparece em várias situações, que são estudadas na Teologia:
– como um favor: “por graça”;
– como um ato de bondade: “agiu com graça”;
– como simpatia: “caiu na graça, foi agradável”;
– como elegância: “cheia de graça”;
– como uma qualidade de vida: “estava em estado de graça”;
– como bom humor: “fazer graça”;
– como uma recompensa: “gratificar”;
– como gratidão: “deu graças”;
– como louvor: “rendeu graças”;
– como identidade: “qual é sua graça”;
– como descoberta: “deu o ar da graça”;
– como expressão de poder: “dispensou sua graça”;
– como perdão: “recebeu o indulto”.
Em Filosofia, Agostinho afirma que a graça é o meio pelo qual podemos exercer a nossa liberdade para a escolha do bem. Para ele, o homem não pode conhecer nada sem o auxílio da graça divina. Tomás de Aquino, que escreveu um tratado sobre a graça, disse que ela consiste em um motor para alma, como um princípio para as ações de bondade, que se expressa como uma participação na natureza divina.
Outro conceito também é estudado na Teologia, pois a graça também foi entendida como uma espécie de beleza, uma concepção estética da relação entre liberdade e necessidade. Friedrich Schiller, no final do século XVIII, a chamou de beleza em movimento, pois é resultante da liberdade. Ela deixa transparecer o caráter moral do homem.
A graça enquanto conhecimento bíblico
Na Bíblia, a graça é um dom e promove dons. No estudo da Teologia, ela tanto é um presente que Deus nos concede como é também uma capacitação para que possamos partilhar uns com os outros seu amor, bondade e misericórdia. A graça se realiza entre nós como charismata, mais conhecida como dons espirituais. São verdadeiras amostras da graça.
Pedro aconselha a que administremos a graça em seus aspectos multiformes: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas” (1 Pedro 4.10).
A expressão “múltiplas formas” se refere ao universo de cores que existe na natureza. A ideia é de que há uma variedade de possibilidades de agirmos com graça e por graça uns com os outros. Isso nos lembra que Deus ama a diversidade.
Na Teologia, a graça está relacionada à ação divina, ao modo como Deus se manifesta na história e age para poder atrair para si a humanidade perdida. A maior expressão da graça é a revelação de Deus em Cristo. A maneira como Jesus veio ao mundo, viveu, ensinou, se relacionou com pessoas, morreu, foi ressuscitado e recebido na glória é o discurso mais eloquente da graça divina.
Por esse direcionamento, vale destacar que, em suma, o estudo da graça ainda é fortemente ampliado na Teologia.
Em tese, diversos cursos na área, incluindo aqueles de pós-graduação em Teologia, visam compreender melhor a relação que ela possui com o conhecimento bíblico, bem como entender sua presença na vida cotidiana.
Texto Por: Dr. Irenio Silveira Chaves (Coordenador dos cursos de Pós-Graduação em Aconselhamento Pastoral e Ministério Pastoral)