O modelo de discipulado de Jesus

Doutor em Teologia, Coordenador dos cursos de Pós-graduação em Aconselhamento Pastoral e Ministério Pastoral

Reprodução:AI

 

Se quisermos entender o que é discipulado, precisamos observar com atenção a relação entre Jesus e seus discípulos conforme é apresentada nos evangelhos. Jesus escolheu, capacitou e comissionou discípulos. Jesus investiu na formação de pessoas para seu movimento de forma inovadora, que não tem a ver com um plano de dominação nem um projeto de poder.

O modelo de discipulado de Jesus tem início no encontro transformador com o Mestre. O maior equívoco do cristianismo foi o de tentar criar um reino de justiça e fé, em meio a uma sociedade corrompida e perversa, sem a ação transformadora do evangelho na vida das pessoas. Tentar colocar ordem num mundo caótico, por entender que este está distante dos propósitos de Deus, não corresponde à missão dada por Jesus. Ele não chamou pessoas a defenderem uma ideologia de poder, mas para serem testemunhas da graça divina, que nos acolhe e nos transforma em novas criaturas. Isso não se limita à formação de uma nova estrutura política e social, mas à restauração da humanidade em nós.

 

O modelo de Jesus para o discipulado é, portanto, relacional e intencional. Isso envolve alguns aspectos. Em primeiro lugar, ele desafiou pessoas para uma nova vida, a viver uma nova realidade. Somos transformados em nosso caráter, em nosso modo de pensar e na maneira como vemos o mundo. Isso demanda uma intencionalidade no discipulado. Em segundo lugar, Jesus encorajou pessoas a uma vida de intimidade com Deus e para serem mais sensíveis à sua vontade. Sua presença entre nós nos restaura e nos cura. Isso nos estimula a uma celebração apaixonada e apaixonante. Em terceiro lugar, ele também convocou pessoas para a vida em comunidade. Isso demonstra o quanto somos amados e valorizados e desperta uma atitude mais acolhedora. E, em quarto lugar, ele ainda capacitou pessoas para testemunhar e para servir. Temos a missão de sinalizar o Reino de Deus no mundo. Isso nos leva a uma ação em favor das pessoas mais vulneráveis.

 

Por que Jesus se preocupou com isso? Ele sabe que a única forma que temos para alcançar o mundo todo é através do relacionamento interpessoal. Cristãos não se reproduzem automaticamente, o que corresponde ao fato de que todos nós precisamos ser ajudados para chegar à maturidade. Nesse sentido, o discipulado é a melhor ferramenta para a formação de lideranças e de pessoas que são capazes de influenciar outras. Como uma relação intencional entre pessoas, o discipulado tem um baixo custo de implantação, pois se baseia unicamente no relacionamento.

 

Os primeiros discípulos compreenderam esse modelo de forma muito clara e o aplicaram no começo de sua caminhada como igreja no mundo. Logo de início, os primeiros discípulos foram reconhecidos como pessoas que estiveram com Jesus por causa de sua atitude: “Vendo a coragem de Pedro e de João, e percebendo que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com Jesus.” Atos 4.13.

O resultado da aplicação desse modelo no seguimento de Jesus contribuiu decisivamente para o aumento do número de cristãos desde o início. Esse é o modo como o livro de Atos relata: “E divulgava-se a palavra de Deus, de sorte que se multiplicava muito o número dos discípulos […]” Atos 6.7 (ARA).

 

E síntese, o modelo de discipulado de Jesus consiste basicamente em ser e fazer discípulos. Isso vale para sua época e vale para nossos dias para quem segue seus ensinos. E esse é o fator preponderante para a multiplicação do número daqueles que são alcançados pela graça e têm suas vidas transformadas.

Neste capítulo, você vai encontrar uma cuidadosa análise do sentido do discipulado e como Jesus aplicou em seu colegiado de seguidores um significado completamente diferente dos demais. Quando Jesus quis formar um grupo de discípulos, sua forma de convidar já indicava o que pretendia. Ele disse para cada um: “segue-me”. O sentido de discipulado de Jesus tem a ver com o modo como o seguimos, seus ensinos e seu exemplo, mas também como ele é acolhido no interior da vida. Jesus não quis transformar pessoas em reprodutores de saber ou de modelos, mas de fazer com que pessoas simples pudessem se tornar verdadeiras testemunhas do que ele pode fazer numa vida que toma a decisão de segui-lo.

 

Irenio Silveira Chaves

 

Pastor da Igreja Batista da Orla Oceânica, escritor e professor universitário. É graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Mestre em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Coordenador dos cursos de Pós-graduação em Aconselhamento Pastoral e Ministério Pastoral da MURSI.