A Constituição Dogmática Dei Verbum (DV), elaborada no contexto do Concílio Vaticano II, constitui um marco na reflexão teológica sobre a Revelação divina. Devido a sua importância, ela é amplamente debatida no mundo teológico, especialmente em cursos de pós-graduação em Teologia.
Ao recorrer à categoria paulina de “mistério” (cf. Rm 16,25-26), a DV ilumina os desígnios de Deus em relação à humanidade, enfatizando sua vontade primordial de comunicar-se e entregar-se em plenitude.

Ademais, ao explorar a natureza da Revelação, a DV destaca o caráter de proximidade entre Deus e o ser humano, valendo-se de três analogias principais: a palavra, o diálogo e o encontro.
Teologia e as Dimensões da Revelação
Nossa reflexão propõe-se a aprofundar essas dimensões da Revelação, analisando os verbos utilizados pela DV para expressar a dimensão salvífica da proximidade divina: ter acesso, tornar-se participantes, dialogar, entreter-se, convidar e acolher.
A utilização do termo “mistério” por Paulo em Romanos 16,25-26 é central para compreender a abordagem da DV. O apóstolo refere-se ao mistério como um plano oculto de Deus, manifestado progressivamente na história e plenamente revelado em Jesus Cristo.
A DV adota essa categoria para descrever os desígnios divinos, que incluem não apenas o conhecimento intelectual sobre Deus, mas uma relação pessoal e transformadora com Ele.
Revelação Divina na Perspectiva da Constituição Dogmática Dei Verbum
Na perspectiva da DV, a Revelação divina é antes de tudo uma iniciativa de Deus, movida por seu desejo de comunicar-se com a humanidade.
Esse movimento parte da gratuidade divina e culmina na auto entrega plena em Jesus Cristo, em quem se manifesta “o mistério escondido desde todos os séculos” (Ef 3,9).
A noção de mistério, portanto, transcende o conceito de um segredo restrito ou inacessível; é uma realidade destinada a ser compartilhada com a humanidade, a fim de revelar a plenitude da vida em comunhão com Deus.
A DV sublinha que Deus não se contenta em comunicar verdades ou doutrinas de maneira abstrata. Antes, Ele se entrega em sua totalidade, em um movimento de amor que tem como objetivo a união entre o Criador e suas criaturas.
Os desígnios de Deus estão centrados na redenção e na santificação da humanidade. Por meio de sua Revelação, Ele não apenas instrui, mas transforma, permitindo que os seres humanos se tornem “participantes da natureza divina” (2Pd 1,4).
Esse aspecto participativo é fundamental, pois demonstra que a Revelação não se limita a transmitir informações, mas implica uma transformação existencial e espiritual.
Por ter um aspecto fundamental, essas nuances da Revelação são amplamente discutidas em cursos de pós-graduação em Teologia, para que muitos líderes religiosos possam compreender plenamente a sua mensagem.
Constituição Dogmática Dei Verbum e a Palavra
Na DV, a palavra é apresentada como a analogia primordial para a Revelação. Deus fala ao ser humano por meio das Escrituras, dos profetas e, sobretudo, de seu Filho.
Essa palavra não é apenas informativa, mas performativa; ela realiza aquilo que comunica. Quando Deus fala, Ele cria, transforma e chama à existência uma nova realidade.
O verbo “ter acesso” é particularmente significativo nesse contexto. Por meio da palavra divina, a humanidade tem acesso ao coração de Deus e à compreensão de seus desígnios. Esse acesso é gratuito e universal, refletindo a intenção divina de incluir todos os povos no conhecimento de sua verdade.
A segunda analogia é o diálogo. A Revelação divina não é um monólogo, mas um diálogo amoroso entre Deus e a humanidade. Deus não apenas fala, mas ouve; não apenas instrui, mas responde às inquietações humanas.
O verbo “dialogar” expressa essa dimensão relacional. Por meio da oração, da liturgia e da experiência comunitária, os seres humanos são chamados a interagir com Deus em um processo de reciprocidade.
Esse diálogo não é meramente simbólico; ele tem consequências reais na vida de quem participa, levando à conversão e à adesão plena aos caminhos de Deus.
Na prática, é necessário compreender melhor este diálogo para fixar melhor a sua mensagem. Atualmente, os cursos de pós-graduação em Teologia já debatem seu significado, para que aqueles que se interessem pelas Escrituras possam absorvê-lo completamente.
Constituição Dogmática Dei Verbum e a Analogia do Encontro
A analogia do encontro é talvez a mais profunda, pois sintetiza o objetivo final da Revelação: a comunhão plena entre Deus e a humanidade. Nesse encontro, Deus “entretem-se” conosco, convidando-nos a participar de sua vida divina.
Os verbos “entreter-se”, “convidar” e “acolher” ilustram essa dimensão. O “entreter-se” remete à ideia de um Deus que se deleita na presença de suas criaturas, revelando um aspecto de ternura e cuidado.
O “convidar” expressa o desejo de Deus de incluir a humanidade em sua vida trinitária, enquanto o “acolher” sublinha a atitude de abertura e hospitalidade divina.
A DV apresenta a Revelação como uma relação e não apenas como transmissão de informações. Essa compreensão tem profundas implicações para a teologia e para a vida cristã.
A Revelação exige uma resposta de fé que é ao mesmo tempo intelectual, afetiva e volitiva. Jesus Cristo é o ponto culminante e o centro da Revelação. Ele é ao mesmo tempo o mediador e a plenitude da Revelação divina (cf. Hb 1,1-2).
Em Cristo, Deus se comunica de maneira definitiva, estabelecendo uma relação irreversível com a humanidade. A DV sublinha que toda a Escritura e toda a tradição eclesial encontram sua unidade e plenitude em Cristo.
Teologia e a Rica Mensagem da Dei Verbum sobre a Revelação
A Dei Verbum oferece uma compreensão rica e multifacetada da Revelação divina. Ao adotar a categoria paulina de “mistério” e destacar o caráter de proximidade entre Deus e o ser humano, a DV apresenta a Revelação como um ato de amor que visa transformar e salvar.
As analogias da palavra, do diálogo e do encontro, juntamente com os verbos que expressam a proximidade salvífica, fornecem uma base teológica sólida para entender a dimensão relacional da Revelação.
Essa reflexão desafia a teologia e a pastoral a aprofundar o compromisso com um Deus que se comunica, se entrega e convida. Ela também convida cada cristão a responder com fé viva, que se expressa em um relacionamento pessoal e comunitário com o Deus da Revelação.
Por esse direcionamento, vale dizer que muitos cursos de pós-graduação em Teologia exploram o desenvolvimento dessa reflexão. Através deles, é possível compreender melhor a sua mensagem, bem qual o seu verdadeiro significado para a nossa vida.
Texto por Prof. Dr. Erik Dorff Schmitz
Prof. Dr. Erik Dorff Schmitz é Doutor e Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Graduando em Letras Português pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica de Santa Catarina – FACASC, Bacharel em Filosofia pela Faculdade São Luiz – FSL.